"Os que confiam no Senhor são como os Montes de Sião que não se abalam, mas permanecem para sempre."

quinta-feira, 19 de março de 2009

Defesa


O nano mundo evangélico que visita a blogosfera testemunhou: apanhei muito - e ainda apanho – pelo que escrevo. Levei bordoada para boxeador nenhum botar defeito. Sem conseguir levantar a guarda, inchei os olhos devido aos repetidos cruzados, jabs e ganchos; todos desferidos com técnica. Quase fui a knock-out - o juiz contou até nove. Olhando para trás, fiz por merecer. Meus hematomas não são gratuítos. Escrevo heresia, cutuco algumas vacas sagradas na teologia, confesso amor por cinema, poesia e romance. Narro melancolias. Precipitado, revelo fascínio por Merlots, Bordeauxs, Malbecs. Dialogo com subversivos.Tive uma ideia sinistra para proteger a alma de tanta porrada. Não posso permitir que me abatam nos voos experimentais dessa nova aventura espiritual. Cogitei um plano de defesa, já que não quero retroceder. De agora em diante, quando arriscar ir além com um texto, vou fazer como o bandido que na eminência da morte, avisa: “Eu morro, mas levo muitos comigo”. A estratégia é simples: me esconder atrás de gente melhor do que eu. Assim, quando quiserem esbofetear, terão que acertar primeiro quem me influencia. Se seguir os pensamentos de Ghandi sobre a não violência, quem me retrucar precisa desmontar o pensamento do Mahatama. Gente como Martin Luther King, Nelson Mandela, Desmond Tutu tem as costas largas. Eu não passo de um apóstata de meia tijela. Com eles na frente, feito boi de piranha, não sou devorado sozinho. Como contradizer os teólogos que consideram o atual Estado de Israel uma bênção, mesmo quando despedaça crianças, mulheres e idosos? Pego, então, argumentos de Abraham Heschel (um judeu “em quem não há dolo”) e mostro que a atual política israelense é desumana. Depois é só esperar. Quem se indignar comigo que lute para desqualificar um dos maiores pensadores judaicos do século XX. Pretendo arrastar comigo Paulo Freire, Noam Chomski, Simone Weil, Hannah Arendt, Andrés Torres Queiruga, Jürgen Moltmann. Ouso comprometer, inclusive, Mário Quintana, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Rubem Alves – acho que nenhum se incomodaria.
Sei que esta estratégia não vai aliviar a dor da pancadaria. Mas eu me acabo com um sorriso

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